É sábado, primeiro dia de
Novembro; para uns, hoje é dia de Todos-os-Santos; para outros é dia das
bruxas; para outros dia de caça, cada um escolhe, livremente, qual a formatação
que melhor se adapta ao meio em que cresceu. É, em boa verdade, apenas mais um
dia.
Para o meu texto, conta a
versão importada do dia das bruxas, uma vez que aquilo que hoje tenho para vos
dizer está, de algum modo, relacionado com o fantástico mundo do bruxedo e da
fantasia.
Acredito que a maior parte de
vocês já tenha ouvido algum conhecido a dizer “já só me falta ver um porco a voar!” depois de presenciar
algo de verdadeiramente fora do comum, raro e inimaginável!
Foi precisamente isso, algo de
absolutamente inacreditável, que me foi relatado e que terá acontecido em casa
dos meus Pais.
Temporariamente forçada a um
descanso quase absoluto por uma situação clinica hoje considerada como de
rotina, a senhora minha Mãe viu-se na completa dependência do marido para a
preparação das necessidades alimentares.
O meu Pai e a cozinha são duas
coisas, dois conceitos que se repelem mutuamente excepto quando a fome se
instala ou quando o frio aperta e o fogão de lenha exala aquele calor que tão
bem sabe.
Ver o homem a cirandar na
cozinha é um programa cómico que às vezes pode ser trágico e dou comigo a
pensar que ele faz aquilo de propósito para ser proibido de executar certas
tarefas (a algum lado terei ido buscar certas manhas…).
Sempre que a minha Mãe lhe
pede para desligar o lume do bico do fogão – algo simples, não acham? – a
situação torna-se tão volátil e perigosa como viver num território ocupado
pelos malucos dos radicais islâmicos.
Receosa que a sua boa saúde
pudesse estar em perigo (quantas é que na idade dela não tomam nenhum
comprimido pela manhã e só um à noite?!), a minha Mãe pediu-me para eu ir até
lá a casa dar-lhe umas aulas de culinária; embora não costume exibir os meus
tributos à borla, não pude deixar de atendar ao seu pedido pois até me
arrepiava só de imaginar os danos no seu sistema digestivo após ingestão da má
comida confeccionada pelo marido.
Incapaz de se manter atento,
ou mostrar interesse enquanto eu tentava ensinar-lhe algo básico, como fazer
bifes e batatas fritas, tudo fez para que a minha calma fosse para o galheiro.
Conseguiu-o ao fim de cinco minutos e eu parti, o coração destroçado por deixar
a minha Mãe em tamanhos apuros.
Qual não é o meu espanto, em
recente relatório, vi evidência de que o homem terá conseguido cozer batatas,
cenouras, cebolas, peixe, e, pasmem, terá até feito um bolo – um bolo senhores!
Estou estupefacto, de boca aberta e de queixo caído!
E a minha Mãe ainda respira e
até sorri! Pedi-lhe para só comer uma fatia daqui a três dias e, mesmo assim,
só depois do cozinheiro o ter experimentado; ela está impaciente, acho que não
vai resistir tanto tempo, tenho que ir até lá, vou comprar mais sais de frutos,
fazer a mala e ver um porco a voar!
Nota: Crónica publicada na Edição n.º 1229 de 06 de Novembro de 2014