sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O MEU AVÔ EZEQUIEL

Até ao fim da sua vida, o meu Avô Ezequiel foi o meu ídolo, o meu confidente e o meu cúmplice. Excelente contador de histórias, sobretudo sobre o Brasil onde havia estado alguns anos, era muito conhecido na aldeia pela maneira fantasiosa como as contava e pelos seus dichotes.
Homem de forte compleição física, 1,75 de altura, barbas brancas, aqui e além amarelecidas pela cinza dos cigarros que, às vezes, por elas deslizava, o meu Avô Ezequiel encantava pela sua bonomia e boa disposição.
Fomos muitas vezes os dois a Santa Comba Dão, a pé, visitar meus tios – o tio Manuel, irmão de minha mãe, que dava aulas em Óvoa e sua mulher a tia Anita, que dava aulas em Santa C. Dão. Com minha Avó, Umbelina, assistimos aos seus últimos momentos no dia 29 de Dezembro de 1938, tinha 80 anos e eu 12.
São muitas as recordações que tenho dele e é sempre com emoção que, ao recuar no tempo, parece que sinto ainda o seu carinho, as suas barbas roçando-me a cara, as nossas caminhadas, os seus ensinamentos e, sobretudo, o seu orgulho quando evocava o seu bisavô, que era judeu!
Quando, em conversa com alguém, se referia a mim, nunca dizia o meu nome, dizia sempre “o meu menino”. E todos sabiam que eu era mesmo “o menino” do Avô das barbas como eu ternamente lhe chamava….
Foi o meu Avô Ezequiel o primeiro a incutir na minha mente os valores tradicionais entre os quais o amor de família e o respeito pelos outros, valores que se reforçaram ao longo dos anos, que têm resistido a vários sobressaltos da vida e que continuarão a resistir até que chegue o momento final.