sábado, 21 de dezembro de 2013

SÚPLICA!...

Meu Menino Jesus:

Chamo-me Manuel e sou velho. Permite que me ajoelhe aqui junto ao presépio ao lado de todos estes meninos que, de mãos erguidas e lábios frementes pedem que te lembres deles na noite de Natal. Eu não ouço o que dizem, mas sei que te pedem brinquedos. À luz bruxuleante das velas, nas suas caritas, há qualquer coisa que enternece e deixa transparecer o que lhes vai na alma. A esperança transforma os seus rostos e a confiança no pedido que fizeram, fortifica as suas almas pequeninas – almas inocentes onde ainda não penetraram os males que roem a Humanidade, eles aqui estão, abstraídos de tudo o que os rodeia, esperando confiantes!
Lá fora é noite e faz frio; sopram ventos de destruição e de injustiça. E eu entrei. Fugi à noite, ao frio e ao medo. Quis esquecer tudo e deixei à porta o pesado fardo da Vida. Vim só. E queria pedir-te tantas coisas…
Mas eu não sei rezar. Não sei rezar como os meninos e tu não compreendes, menino Jesus, a linguagem dos homens, mas eu não queria partir sem sentir reviver em mim – ainda que por momentos- essa esperança que transborda das almas dos pequenitos aqui ao meu lado… Não chores. Eu falei alto e tu assustaste- te com a minha voz rouca e cansada. Não tenhas medo... pensei que reconhecias a minha voz de quando era também pequenino. Eu vou embora. A noite está escura e nem uma estrela no teu Céu. O vento sopra forte e gélido. O meu fardo espera-me à porta. A Vida chama-me e eu vou. A lágrima que caiu nos teus pezitos não é de ressentimento, nem de desespero, nem de revolta…Tu sabes o que é uma lágrima? Uma lágrima pode ser um poema inteiro de amor, uma epopeia de dores, de privações, de martírios ou a síntese de uma esperança realizada. Uma lágrima é a alma que fala e deixa, por vezes, um vínculo que nada pode apagar…
Esta que molhou os teus pezitos é uma mistura de tudo isso – foi uma gota de água de uma abundante fonte de recordações que deslizou pelo rosto enrugado de um homem que nunca foi menino.
Não chores. Eu saio, mas suplico-te que faças com que eu possa voltar no próximo Natal para compartilhar das esperanças que vai na alma dos teus meninos…