sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

QUE PORTUGAL?!...


Quando, há dias, passeava numa das nossas cidades, fui atraído pelas inscrições multicolores num muro de um prédio que parecia já desabitado.
Aproximei-me mais e, no meio de desenhos pornográficos, de frases obscenas, de "morras" a isto e àquilo, de insinuações injuriosas e partidárias, de elogios e depreciações futebolísticas, duas palavras em letras gordas e pintadas a tinta vermelha, descaradamente, como de uma provocação se tratasse, se destacavam: VIVA PORTUGAL!
Talvez porque nesse dia a minha sensibilidade estivesse mais susceptível, confesso que me senti constrangido perante aquela explosão de patriotismo rodeada de tão nojenta promiscuidade. E então, intimamente, comecei de me interrogar...
Mas que Portugal?!... E qual deles? O verdadeiro, o da "Lei e da Grei" ou o actual, o da balbúrdia, o da sede insaciável dos lucros, o dos interesses individuais, o materialista e o das injustiças? Sim, qual deles?!... O do politicamente correcto ou o do socialmente hipócrita?
É natural que para muitos tal facto não tivesse despertado qualquer sentimento de repulsa.
E é também compreensível que esta onda de contra-civilização que alastra assustadoramente de Norte a Sul lhes pareça normal!...
Sem padrões de referência que lhes permitam fazer comparações, há por aí muito boa gente a pensar que todas essas manifestações e abusos são o complemento directo daquela liberdade que germinou após a revolução dos cravos...
É verdade. Há hoje por aí muitos que continuam a pensar que hoje tudo é permitido, que o baile nunca mais acaba e que o dinheiro para músicos e para fardamentos novos não se esgota!...
Aqui há tempos alguém me acusava de saudosista, velho e rabugento. As tais acusações daqueles que, com horizontes bastante limitados e vista curta, não enxergam para além do umbigo. Feitios!...
No entanto e apesar de os Invernos já serem bastantes, continuo ainda (graças a Deus!) a conhecer bem a diferença entre saudosismo e educação. E também a saber ocupar o meu lugar e distinguir rabugice de pertinência.
Quer isto dizer que sei ainda fazer a destrinça entre os dois Países em que vivemos.
Isto é: entre o País educado, erudito tradicional e respeitador onde parece mal arrotar, e o País dos interesses, das hipocrisias dos novos-ricos, inculto e mal-educado, onde toda a gente se entende mesmo quando arrota...
E foi por isso que aquele VIVA PORTUGAL não me "caiu" bem.





Sem comentários:

Enviar um comentário